Es(crê)ver



Escrever. Es crê ver, crê naquilo que esta se dizendo. Escravo da letra. Escrevo pra não me entalar, não me afogar nas coisas que não disse, nas coisas que penso. Me desenrolo no meio de tantas letras, sinais, pronomes, pensamentos, sentimentos, minha mente grita comigo e meus dedos são soldados que marcham, mas a dita guerra não tem vencedor, nem perdedor, só existe a mim e um bocado de coisas na cabeça, uma mistura de saudades, de fragmentos, de frases soltas, de felicidades, tristezas, enfim... 


Beijos de luz. 
Dora



On the road



Gosto da estrada. Gosto do imprevisto e do improviso que ela guarda. Gosto do fato de que na estrada algumas pessoas se abrem pra o novo e quando voltam têm o olhar renovado sobre seu próprio quintal.
Kerouac escreveu aquele que talvez seja o livro mais emblemático sobre uma vida de aventuras estrada a fora: Pé na estrada. Com Sal, vamos viajando pelos EUA e descobrindo detalhes e nuances de uma vida sem programação. E sinceramente sou eternamente fascinada por algo assim. Ainda não me programei, mas sei que um dia sairei com "a sorte de choffer de caminhão pra me danar por essa estrada mundo a fora e ir embora". 

Me lembro que minha aproximação com Dora ficou mais sólida quando conversamos sobre isso. Tarcísio é o sonho dela e em parte é o meu também: eu quero pegar nessa calda de cometa e ver a Via Láctea, estrada tão bonita. Acho que o mundo têm coisa demais pra ver e apesar de amar meu quintal precisa de nossos olhares. Enquanto isso não acontece vou me contentando com livros e filmes que descrevem um pouco a história de gente que resolveu sair da zona de conforto, separou uma trilha sonora legal e foi pelo mundo. Os meus filmes favoritos desse gênero são:


Ainda jovem Ernesto Guevara e seu grande amigo Alberto Granado resolveram viajar de moto pela América do Sul. O resultado: bunitezas sem fim. Essa é uma história verdadeira e virou filme (com uma trilha sonora maravilhosa). Os amigos juntos viajam desde Buenos Aires descendo à Patagônia e indo a lugares absolutamente divinos dessa América de meu coração: Machu Picchu, Deserto do Atacama, e o mais incrível de todos pra mim, o leprosário. A medida que viajam, a Poderosa (motocicleta) quebra e eles seguem a pé ou de carona, e conhecem gente e pra mim essa é a maior riqueza da viagem. No filme há uma cena em que eles conhecem trabalhadores nas salinas no Chile e é tão sublime os níveis de humanidade que dói na epiderme.



Drew, um cara materialista se vê num fracasso profissional ridículo, a namorada abandona. Ponto.  Mas tudo muda quando ele é notificado sobre a  morte do pai, um cara super amado em uma cidadezinha longe. Parte do filme gira em torno do velório que é beeeem estadunidense e engraçado. Nesse meio tempo, Drew conhece uma aeromoça super peculiar chamada Clair, eles conversam muito, ela o apóia, mas ele ainda está inundado na autopiedade do fracasso. Aí começa a parte boa do filme, Clair propõe a Drew que volte para casa de carro com as cinzas do pai falecida. Mórbido! Mas interessantíssimo. O itinerário da viagem é muito convidativo ( eu fiquei com vontade de fazê-lo): há lugares que é preciso passar e atitudes para se tomar, a trilha sonora é envolvente, as imagens são fantásticas e qualquer proposta de viagem que faça uma parada em Memphis e fale de Martiin Luther King já me ganha. O pai vai sendo espalhado por algumas das paisagens mais bonitas dos EUA. O filme é uma comédia romântica super gostosa, com um enredo bem legal e imagens absolutamente perfeitas.



Uma produção canadense MUITO boa. Confesso que o assisti porque estava na fase fã de FRINGE e o protagonista do filme é o Joshua Jackson, o Peter Bishop da série. O filme conta a história de Ben, um cara legal com uma vida absolutamente programada com uma companheira legal, pais legais, tudo em ordem. Um pacato cidadão que numa consulta de rotina descobre que está com um câncer fatal e então se dá conta do quão pouco viu do mundo e do Canadá. O Ben tem uma semana de vida e o que ele faz: pega a moto e vai para o outro lado do Canadá, quem ganha com isso somos nós que temos imagens absolutamente fabulosas daquele país e temos ainda uma doçura de filme. E um narrador (ADORO filmes narrados!).


Sim, mas que uma história de uma garotinha querendo ser miss, essa é a história de uma viagem incrível: um roteiro onde o que aconteceu dentro da kombi importava mais que as paisagens fora dela. Oliver e sua família absolutamente desestrutura vai remendando todos os furos na relação enquanto seguem a caminho da Califórnia. A gente ri, chora e dança junto com essa menina.




Outra história verídica! Christopher McCandless é um cara apaixonante: louco por livros e sedento por liberdade, após a formatura ele decide jogar pro alto toda a vida de fachada de sua família rica e partir em busca de viver como os ideias de seus livros de Jack London, Thoreau e Tostói. O livro é incrível e após lê-lo dá uma vontade de jogar tudo pro alto e viver só com a natureza, ainda que no fim a morte espere-nos solitariamente como aconteceu com o Cris.
No filme e no livro Cris muda de nome e torna-se Alexander Supertramp. Faz bons amigos ao longo da estrada, desce até o México mas nunca tira o foco do Alasca que é sua rota final. A história é marcada por uma áurea espiritual fantástica, o Supertramp faz incríveis reflexões sobre tudo e nos encanta com seu jeito simples de ver a vida. Vale a pena conhecer o Cris.


Enfim, há centenas de outros filmes com a temática: muitos ainda não vi, alguns simplesmente não gostei, mas queria indicar mesmo sem ter visto o filme On the road dirigido pelo Walter Sales e que conta a história presente no livro homônimo do Kerouac.
Enfim, se quiser mudar de olhar e ver o mundo mais de perto: vamos fugir desse lugar baby!

 Há braços
Mima

Há um nome para isso.

"Quem não vê bem uma palavra, não pode ver bem uma alma..." Mia Couto




Há palavras que só existem em idiomas específicos. Há muita gente por exemplo que se gaba da palavra "saudade" que é exclusiva da língua portuguesa e é linda convenhamos. Mas para nossa alegria não é a única palavra que só existe em um idioma.
Esses dias lendo um livro (Amor em minúscula, veja no Skoob ), vi outras palavras específicas e armaria que buniteza! Como este blog formou-se a partir das palavras é justo deixá-lo cada vez mais bonito com novas expressões. Encontrar o nome para alguma coisa é uma maneira de conjurar sua existência. Pensamos e nos comportamos de certa maneira porque temos palavras que a apóiam, Nesse sentido, as palavras moldam os pensamentos.
O alemão é uma língua que por sua própria estrutura permite a criação de palavras para situações específicas (o que deve dificultar horrores aprender), mas TODAS eu disse todas as línguas faladas no mundo tem suas particularidades. Tem umas que é poesia só.

Do japonês:
Ah-un; a comunicação tácita entre dois amigos.
Mono no aware: a tristeza das coisas
(Adoro esses japoneses com suas sutilezas poéticas).

Do russo:
Razbliuto:  sentimento que se experimenta por alguém a quem se amou no passado, mas não se ama mais.

Do coreano:
Won:  resistência a livrar-se de uma ilusão.

Do árabe:
Baraka:  energia espiritual que pode ser empregada para fins materiais.

Há milhares de outras palavras. Essa se tornaram minhas preferidas, especialmente as japonesas. O fato é que aquela velha sensação de que há sentimentos inominados pode ser falsa, em algum idioma há uma palavra específica para aquilo que sentimos e isso é lindo. Mostra o poder da palavra: de circunscrever nossa existência, dar sentido e tudo mais. Se eu ficar falando sobre isso vou acabar em Saussare e Lacan e depois nem eu entenderei o que queria dizer. Esse post não tem uma finalidade acadêmica e sim sentimental. É muito bom saber que o inominável não existe, que podemos dar nome a nossa existência e depois entendê-la. Ou não. Só espero que o Au-wun entre mim e as outras habitantes dessa kombi continue plena.


Armaria enfim uma postagem de verdade e uma viagem boa nessa kombi!

Há-braços,
Mima.


(...)



Nunca, jamais e em TEMPO ALGUM, cite as sabias palavras desse santo nome em vão. 
E tenho dito. 


Beijos de luz

Dora

Viva la poesía

Esses dias estava naquela rede social chamada Facebook, e zapeando entre uma pagina e outra, uma conversa fiada e outra, me marcam num comentário qualquer,num post qualquer de uma pagina ''qualquer'' ela se chama: ''Isadora não entende nada.'' (Sim, esse e o nome da página, podem procurar), eu como uma Isadora que sou, me insulto por não concordar com tal nome, mas ai vou para a página para não julgar sem conhecer, clico e me deparo com uma das páginas mais simpáticas e com sentimento daquela rede social, as postagens ficam entre ilustrações e poemas, que são todos autorais, um dos meus favoritos e o:


''som de mim


eu tenho um caos na minha cabeça
quando ao redor - o nada
e logo mais me abraça em calmaria
olho pra vida e ela: alucinada!

confundo tudo enquanto a lua cresce
e do contrário? nem sei o que acontece
nunca entendi o ritmo do meu peito
mas faz som bonitinho, e eu, aceito.''


(Sentimental, não?)
Entre outros que estão na página. E ainda não concordo com o nome, porque a ''Isadora não entende nada.'', entende tudo. 

Beijos de luz, 
                                                                               Isadora

 
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