Gosto da estrada. Gosto do imprevisto e do improviso que ela guarda. Gosto do fato de que na estrada algumas pessoas se abrem pra o novo e quando voltam têm o olhar renovado sobre seu próprio quintal.
Kerouac escreveu aquele que talvez seja o livro mais emblemático sobre uma vida de aventuras estrada a fora: Pé na estrada. Com Sal, vamos viajando pelos EUA e descobrindo detalhes e nuances de uma vida sem programação. E sinceramente sou eternamente fascinada por algo assim. Ainda não me programei, mas sei que um dia sairei com "a sorte de choffer de caminhão pra me danar por essa estrada mundo a fora e ir embora".
Me lembro que minha aproximação com Dora ficou mais sólida quando conversamos sobre isso. Tarcísio é o sonho dela e em parte é o meu também: eu quero pegar nessa calda de cometa e ver a Via Láctea, estrada tão bonita. Acho que o mundo têm coisa demais pra ver e apesar de amar meu quintal precisa de nossos olhares. Enquanto isso não acontece vou me contentando com livros e filmes que descrevem um pouco a história de gente que resolveu sair da zona de conforto, separou uma trilha sonora legal e foi pelo mundo. Os meus filmes favoritos desse gênero são:
Ainda jovem Ernesto Guevara e seu grande amigo Alberto Granado resolveram viajar de moto pela América do Sul. O resultado: bunitezas sem fim. Essa é uma história verdadeira e virou filme (com uma trilha sonora maravilhosa). Os amigos juntos viajam desde Buenos Aires descendo à Patagônia e indo a lugares absolutamente divinos dessa América de meu coração: Machu Picchu, Deserto do Atacama, e o mais incrível de todos pra mim, o leprosário. A medida que viajam, a Poderosa (motocicleta) quebra e eles seguem a pé ou de carona, e conhecem gente e pra mim essa é a maior riqueza da viagem. No filme há uma cena em que eles conhecem trabalhadores nas salinas no Chile e é tão sublime os níveis de humanidade que dói na epiderme.
Drew, um cara materialista se vê num fracasso profissional ridículo, a namorada abandona. Ponto. Mas tudo muda quando ele é notificado sobre a morte do pai, um cara super amado em uma cidadezinha longe. Parte do filme gira em torno do velório que é beeeem estadunidense e engraçado. Nesse meio tempo, Drew conhece uma aeromoça super peculiar chamada Clair, eles conversam muito, ela o apóia, mas ele ainda está inundado na autopiedade do fracasso. Aí começa a parte boa do filme, Clair propõe a Drew que volte para casa de carro com as cinzas do pai falecida. Mórbido! Mas interessantíssimo. O itinerário da viagem é muito convidativo ( eu fiquei com vontade de fazê-lo): há lugares que é preciso passar e atitudes para se tomar, a trilha sonora é envolvente, as imagens são fantásticas e qualquer proposta de viagem que faça uma parada em Memphis e fale de Martiin Luther King já me ganha. O pai vai sendo espalhado por algumas das paisagens mais bonitas dos EUA. O filme é uma comédia romântica super gostosa, com um enredo bem legal e imagens absolutamente perfeitas.
Uma produção canadense MUITO boa. Confesso que o assisti porque estava na fase fã de FRINGE e o protagonista do filme é o Joshua Jackson, o Peter Bishop da série. O filme conta a história de Ben, um cara legal com uma vida absolutamente programada com uma companheira legal, pais legais, tudo em ordem. Um pacato cidadão que numa consulta de rotina descobre que está com um câncer fatal e então se dá conta do quão pouco viu do mundo e do Canadá. O Ben tem uma semana de vida e o que ele faz: pega a moto e vai para o outro lado do Canadá, quem ganha com isso somos nós que temos imagens absolutamente fabulosas daquele país e temos ainda uma doçura de filme. E um narrador (ADORO filmes narrados!).
Sim, mas que uma história de uma garotinha querendo ser miss, essa é a história de uma viagem incrível: um roteiro onde o que aconteceu dentro da kombi importava mais que as paisagens fora dela. Oliver e sua família absolutamente desestrutura vai remendando todos os furos na relação enquanto seguem a caminho da Califórnia. A gente ri, chora e dança junto com essa menina.
Outra história verídica! Christopher McCandless é um cara apaixonante: louco por livros e sedento por liberdade, após a formatura ele decide jogar pro alto toda a vida de fachada de sua família rica e partir em busca de viver como os ideias de seus livros de Jack London, Thoreau e Tostói. O livro é incrível e após lê-lo dá uma vontade de jogar tudo pro alto e viver só com a natureza, ainda que no fim a morte espere-nos solitariamente como aconteceu com o Cris.
No filme e no livro Cris muda de nome e torna-se Alexander Supertramp. Faz bons amigos ao longo da estrada, desce até o México mas nunca tira o foco do Alasca que é sua rota final. A história é marcada por uma áurea espiritual fantástica, o Supertramp faz incríveis reflexões sobre tudo e nos encanta com seu jeito simples de ver a vida. Vale a pena conhecer o Cris.
Enfim, há centenas de outros filmes com a temática: muitos ainda não vi, alguns simplesmente não gostei, mas queria indicar mesmo sem ter visto o filme
On the road dirigido pelo
Walter Sales e que conta a história presente no livro homônimo do Kerouac.
Enfim, se quiser mudar de olhar e ver o mundo mais de perto:
vamos fugir desse lugar baby!
Há braços
Mima